Pedra Riscada / Publicações e Escaladas

AVENTURA
A conquista da grande muralha
O maior paredão rochoso das Américas fica em Minas Gerais, tem 1.260 metros de altura e abriga uma reserva de Mata Atlântica

ANA CRISTINA ROSA
O maior paredão de pedra das Américas fica em Minas Gerais. Trata-se da Pedra Riscada, um monólito de granito com 1.260 metros de altura do solo ao topo. Localizada no município de São José do Divino, na divisa com o Espírito Santo, faz parte do maciço da Serra dos Aimorés, a 450 quilômetros de Belo Horizonte, região que concentra os maiores afloramentos de granito do Brasil. Sua face de maior extensão foi escalada há cerca de três meses por um grupo de cinco alpinistas, feito só divulgado na semana passada.
É uma façanha histórica. Até a conquista da Pedra Riscada, acreditava-se que os maiores paredões para a prática de alpinismo nas Américas fossem as montanhas Cerro Torre, com 1.200 metros, na Patagônia, e El Capitán, com 1.100 metros, no Yosemite National Park, na Califórnia. No Brasil, os recordistas até então eram a Maria Comprida, no Rio de Janeiro, com 1.040 metros, e o Pico União, de 1.000 metros, no Paraná.
Fotos: Márcio Bortolusso SUFOCO
A escalada demorou oito
dias, mais que o previsto.
Faltaram água e comida.
A escalada da Pedra Riscada durou oito dias. O projeto, desenvolvido pela Photoverde Produções, empresa especializada em documentação e divulgação de atividades ao ar livre, exigiu um esforço acima do normal. Para chegar ao topo da rocha, os alpinistas tiveram de enfrentar horas a fio de trabalho duro, driblar o sono, encarar chuva, vencer o frio. Também passar fome e sede. 'Calculamos mal as provisões e acabamos ficando sem água e com pouca comida', conta o fotógrafo e alpinista Márcio Bortolusso, coordenador da expedição. 'Lá pelo sexto dia, a sede era tamanha que chegamos a sorver com a língua as gotas de orvalho acumuladas sobre os cactos que encontrávamos pelo caminho', diz Chander Cristian Silva, integrante da equipe.
Os alpinistas dormiam
pendurados em redes 
e portaledges
Por se tratar de uma formação de granito antiga, a rocha é muito lisa e as poucas saliências se esfarelavam por causa da erosão. Assim, não foi nada fácil encontrar apoio para as mãos e pontos adequados para a fixação dos ganchos para as cordas. A equipe avançava um pouco a cada dia. A tensão era constante. Tanto que a rota de escalada foi batizada com a frase mais pronunciada pelo grupo: 'Vai, mais não cai, não!' Os esportistas montaram um acampamento a 500 metros do chão e, a cada noite, depois de avançar um novo trecho da rocha, desciam por cordas fixas até o ponto de segurança. Lá se alimentavam e dormiam em redes ou nos chamados portaledges, espécie de macas-barracas suspensas. Nesse sobe-e-desce, cada alpinista escalou 2.700 metros em corda fixa e desceu outros 3.100.
GRANDIOSIDADE
O paredão brasileiro superou as maiores vias de escalada conhecidas das Américas.
'A emoção de chegar ao cume foi tamanha que por alguns instantes esquecemos da fome, da sede e do cansaço físico', lembra Bortolusso. Vencido o paredão de rocha, o grupo deparou com uma vegetação que está sendo considerada um dos trechos de Mata Atlântica em melhor estado de preservação do país. Como não há trilhas até o topo da Pedra Riscada, a mata é densa e intocada. No topo, vários animais foram avistados, como gaviões, corujas e uma espécie de águia ameaçada de extinção. Pesquisadores acreditam que ali existam espécies não catalogadas e até mesmo algumas mutantes. Há razões para isso. Quando um local pequeno tem seu ecossistema inalterado durante um longo período, ocorre o cruzamento entre algumas das poucas espécies que povoam a área. Com insetos o fenômeno é mais freqüente. Assim, surge outra espécie, própria daquele lugar. As descobertas da equipe reforçam a hipótese levantada pelos pesquisadores. Dois animais encontrados no paredão parecem não ter similar, uma rã e uma coruja branca de cerca de 70 centímetros, que não se sabe se é uma nova espécie ou um exemplar de grande porte da Tyto alba tuidara, conhecida como suindara. Mesmo nesse caso, já seria um grande achado, considerando-se que o tamanho máximo catalogado para esse tipo de ave é de 30 centímetros. Para auxiliar as análises, os alpinistas coletaram amostras de dejetos animais. Um dos objetivos da expedição é ajudar a compor um inventário da fauna e flora para contribuir para as pesquisas sobre a região e dar subsídios para a criação de uma área de proteção ambiental.

  • Fonte: REVISTA ÉPOCA Publicada: 01/11/2002 - 21:28 | Edição nº 233
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  CONJUNTO PAISAGÍSTICO DA PEDRA RISCADA - O presente dossiê de tombamento apresenta o Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada e retrata a sua importância histórica e cultural para os moradores de São José do Divino.
A Pedra Riscada consiste em um gigantesco monolito visível a longas distâncias. Esse Bem rochoso sempre foi o elemento de identificação mais marcante para os divinenses, que o adotam como símbolo oficial da cidade, estando presente, inclusive, no Brasão Oficial do município.
A paisagem da cidade é rodeada por elevações das quais emergem afloramentos rochosos graníticos. Contudo, a enorme Pedra Riscada se destaca nessa paisagem pelo seu enorme tamanho e por ser uma montanha exclusivamente rochosa, desde a sua base até o seu topo.
A Pedra Riscada é o maior monolito rochoso do Brasil e um dos maiores da América Latina. Avistam-se maiores concentrações de vegetais na região entre o pico maior e o menor e nas áreas mais altas e menos íngremes do Bem. Alguns aventureiros já escalaram a enorme rocha e, sobre essa façanha, descrevem histórias dignas de livros. O único grupo que conseguiu alcançar o topo do monolito relatou a existência de espécimes novos de animais e plantas no topo da Pedra Riscada e ao longo dela, que estão sujeitos a condições extremas de sobrevivência, incluindo ventos fortes constantes e enorme variação térmica entre o dia e a noite.
É impossível, para os divinenses, ignorarem a existência de um Bem de tamanha grandeza, exuberância e preservação. Além disso, de acordo com os moradores da região, especialmente os mais que moram mais próximos da base do monolito, o Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada apresenta mistérios e é palco de histórias e lendas da região.
Por sua expressividade, o Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada se tornou o ícone do município e não há divinense que não conheça o afloramento rochoso e não lhe dedique carinho especial. Além de ser um referencial no tempo e no espaço para os moradores de São José do Divino, a Pedra Riscada representa um estímulo para a imaginação dos divinenses e faz parte da história e da identidade afetiva e cultural dos divinenses.
O presente documento visa o levantamento da história do maciço rochoso e de dados sobre esse enorme Bem natural. Com esse dossiê almeja-se, então, a maior proteção do Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada e a formalização do reconhecimento desse elemento ímpar como patrimônio histórico e cultural de São José do Divino.
A elaboração desse trabalho baseou-se em profunda pesquisa histórica, documental e de campo, entrevistas com diversos divinenses e com os escaladores da rocha e análise de fontes bibliográficas, cartográficas e fotográficas.
 
O Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada é composto por um afloramento rochoso de proporções gigantescas, denominado Pedra Riscada, e seu entorno mais imediato. Por sua grandiosidade e altura, o bem natural é avistado a grandes distâncias e de vários ângulos. Situa-se no município de São José do Divino, em Minas Gerais, próximo ao limite com o estado do Espírito Santo. A Pedra Riscada sempre esteve presente na história do município e sempre foi um importante referencial espacial e sentimental para os divinenses.
Desde a ocupação do município já era possível avistar a rocha gigantesca de quase todos os pontos da atual zona urbana. Isso porque a Pedra Riscada consiste em um monolito de enormes proporções que possui mais de 1400 metros de altura em relação ao nível do mar. O contorno de sua base chega a medir aproximadamente 5 km. Os divinenses relatam que a Pedra Riscada corresponde ao quinto maior monolito da América Latina. É justamente por causa da grandiosidade do bem que o mesmo é avistado de quase todos os pontos da cidade.
  Não há dúvidas de que o nome Pedra Riscada é devido aos sulcos longitudinais de seus paredões que, de longe, parecem riscos. Esses riscos que, na época da seca, ficam esbranquiçados, reforçam ainda mais a beleza do bem. Não se sabe exatamente quando foi a primeira vez que o gigantesco monolito foi denominado de Pedra Riscada, mas os moradores mais antigos dizem que ela já é chamada assim há muito tempo pois sempre a conheceram por esse nome. 
A parte mais alta de sua estrutura do afloramento apresenta formato abaulado, tipo pão-de-açúcar, onde se encontram os grandes paredões. Porém, existem alguns prolongamentos de rocha e algumas irregularidades no formato do bem. Dois desses prolongamentos, um em cada lado de um paredão tipo pão-de-açúcar, fazem com que o afloramento assuma um formato de parecido ao de uma poltrona no ângulo de visão de quem está na cidade. No platô formado no topo da rocha há um adensamento vegetacional intocado e misterioso pois, em função de sua localização, nunca foi estudado nem explorado. Há também um prolongamento na direção noroeste que finaliza com um pico rochoso, porém, de proporção muito menor quando comparado o restante da Pedra Riscada.
Além disso, a importância ecológica e ambiental do Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada é indiscutível! A Sra. Maria José Caetano afirma que existem 9 minas d’água na Pedra Riscada, sendo algumas perenes. A existência de minas d’água e nascentes aumenta ainda mais a importância do Bem, vez que, com o desmatamento de toda área ao redor, muitos rios e córregos tiveram o volume de água diminuído, menos os córregos formados com a partir das nascentes do monólito. Verifica-se esse potencial aqüífero por uma dessas minas que fica na base da rocha e gera bastante água. No mesmo sentido, além da Mata Atlântica ao redor e ao longo do afloramento, a mata intocada do topo da rocha certamente é uma fonte riquíssima de espécimes preservados e, talvez, até de diferentes espécies que ocorram somente naquele ecossistema.
Porém, do ponto de vista histórico, uma vez que a Pedra Riscada consiste em um Bem mineral e localiza-se a certa distância do centro urbano de São José do Divino, seria possível supor que a inter-relação de sua história com a história do município ficaria restrita a uma participação “passiva”, de composição da paisagem da redondeza e de contemplação de sua beleza exuberante. Contudo, além dessa forte integração ecológica e cênico-paisagística, a Pedra Riscada protagoniza a criação e recriação de várias conjecturações dos divinenses a respeito dos mistérios que ela possui.
Assim, apesar da escassa interatividade que se supõe haver entre um afloramento rochoso mais distanciado e uma comunidade, a Pedra Riscada é capaz de despertar diariamente a admiração e a imaginação dos moradores e visitantes de São José do Divino. Várias são as histórias que envolvem o Bem, através do contato direto ou não.
Além de mexer com o imaginário dos divinenses, o Conjunto Paisagístico também cria expectativas e curiosidades. Sabe-se que a mata do topo da Pedra Riscada forma um ecossistema totalmente isolado e auto-suficiente. Esse isolamento e as condições extremas às quais a fauna e flora local estão submetidas podem ter, ao longo dos anos, provocado uma seleção natural sob os indivíduos que sobrevivem no cume do monolito, tendo em vista a pressão adaptativa causada pelas rigorosas condições do local, podendo existir espécies endêmicas e únicas daquele ecossistema. Esse fato associado à inacessibilidade e à não exploração do local cria uma curiosidade enorme nos divinenses e nos estudiosos da natureza.
Uma unanimidade entre os divinenses é o reconhecimento do enorme potencial turístico do Conjunto Paisagístico da Pedra Riscada. Muitas pessoas de fora de São José do Divino, inclusive estrangeiros, vêm para conhecer a Pedra Riscada, fotografar e escalar os paredões da rocha. O Sr. João Ferreira Leite relata que muitas pessoas tiram fotos do Bem natural para vender. Vários moradores de São José do Divino também relatam que, à noite, não é raro avistar luzes de lanternas e lamparinas de escaladores e montanhistas que sobem pela estrutura da Pedra Riscada. Até foguetes alguns desses aventureiros soltam de lá. O Sr. José Machado de Oliveira, morador do Povoado dos Machados, conta que muitos escaladores e montanhistas passam pelo Povoado dos Machados a caminho do monolito. 
O enorme potencial turístico do monolito tem fundamento. Como consta na Revista Época n° 233 de 04 de novembro de 2002, "Até a conquista da Pedra Riscada, acreditava-se que os maiores paredões para a prática de alpinismo nas Américas fossem as montanhas Cerro Torre, com 1.200 metros, na Patagônia, e El Capitán, com 1.100 metros no Yosemite National Park, na Califórnia". Porém, a Pedra Riscada possui vários paredões completamente nus e o maior paredão rochoso das Américas, que é o paredão de 1.260 metros de altura na face sudoeste do bem.  Portanto, são os maiores paredões escaláveis do Brasil e de toda América!
Um grupo de montanhistas chegou a escalar o Bem até o cume pela face leste, por uma via que batizaram de “Bodífera Ilha”. Essa escalada e outra menor pela face oeste da Pedra Riscada foram publicadas na revista Universo Vertical5 e Ardoce6.
Apenas um grupo coordenado pelo fotógrafo e montanhista Márcio Bortolusso já conseguiu a façanha de alcançar o cume escalando pelo paredão de 1.260 metros, feito que foi divulgado em diversas revistas: Adventure1, Época7, MTV8, Academia Esportes9 e no Jornal Imagem de Minas10. O projeto de escalada foi desenvolvido pela Photoverde Produções e a subida até ao topo no gigantesco monolito durou oito dias. Na reportagem publicada na revista MTV 21, de dezembro de 2002, o Bem foi apelidado de "Pedra Arriscada" por causa das dificuldades que a escalada apresenta. 
O montanhista comenta sobre o desafio: "Foram oito dias de trabalho árduo, dormindo em redes presas à rocha, enfrentando sol forte de dia, frio cortante à noite, chuva, má alimentação, chegando próximo dos limites físicos e psicológico do ser humano. Sem esquecer a altura considerável, em que uma queda certamente seria fatal. Tudo isso pelo aparentemente simples, mas indescritível, prazer de atingir o topo da Pedra Riscada, o maior monolito rochoso do Brasil e um dos maiores das Américas, localizada em São José do Divino, a aproximadamente 450 quilômetros de Belo Horizonte, próximo à divisa dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo". 
No sétimo dia as provisões de comida e bebida que a equipe levara haviam se esgotado. Eles então denominaram esse dia de "dia do tudo ou nada" porque seria a última tentativa de alcançar o topo antes de voltar. Relatam: "Se não conseguíssemos alcançar o cume dessa vez, teríamos que descer, não havia mais o que comer". Estava chovendo, mas mesmo assim eles conseguiram alcançar o cume da Pedra Riscada às 21 horas, depois de 1.260 metros de via conquistada.
Conta Bortolusso "A emoção de chegar ao cume foi tamanha que por alguns instantes esquecemos da fome, da sede e do cansaço físico". Se a visão da Pedra Riscada já causa um enorme impacto a qualquer pessoa, a emoção de chegar até o seu topo deve ser realmente muito grande.  
Assim, além da riqueza paisagística, o monolito também desperta nos turistas a admiração e a vontade de superação através de escaladas e esportes radicais. Por isso, os divinenses também identificam esse enorme potencial turístico do Bem, especialmente para fins de escalada.  
  • Fonte: Dossiê De Tombamento
  • Coordenação Geral: Raissa de Luca Guimarães  Bióloga

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TURISMO E EVENTOS: Está localizado no município de São José do Divino o maior paredão de pedras das Américas. Trata-se da PEDRA RISCADA, um monólito de granito com 1.260 metros de altura do solo ao topo, faz parte do maçiço da Serra dos Aimorés, a 450 Km de Belo Horizonte, região que concentra os maiores afloramentos de granito do Brasil, e abriga uma reserva de Mata Atlântica . Sua face de maior extensão foi escalada em 2002 por um grupo de cinco alpinistas, feito divulgado na revista Època de 4 de novembro de 2002. Foi uma façanha histórica, a escalada da Pedra Riscada durou 8 dias, o projeto foi desenvolvido pela Photoverde Produções, empresa especializada em documentação e divulgação de atividades ao ar livre. Em sua sede, comemora-se o Carnaval, as festas juninas, o Natal, o 7 de Setembro, além da Festa do Padroeiro São José, no dia 19 de março, com barraquinhas e leilões de prendas oferecidas pelos fiéis ao Santo Padroeiro.    
  • Fonte: IBGE Autor do Histórico: GILMAR MORAES DE FREITAS
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PEDRA RISCADA - 1260m DE PAREDE    
Segundo os conquistadores, a via recém conquistada "Vai mas não cai não", na Pedra Riscada - MG, pode ser a 'maior via das américas'   Fonte: webventure - F otos: Márcio Bortolusso
             
       A impressionante elevação rochosa conhecida como Pedra Riscada, fica no município de São José do Divino, a cerca de 450km de Belo Horizonte, próxima à divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Só a pouco tempo se tornou conhecida dos escaladores e possuía até a pouco apenas um acesso ao cume, numa escalada aberta por um grupo mineiro. Sua região está sendo reconhecida como o berço das maiores paredes rochosas do Brasil, que variam de 250 a 1.200 metros de altura. A Pedra Riscada é a maior de todas as montanhas da região e possivelmente o maior afloramento de rocha do país e um dos maiores do Continente.
       Em julho deste ano, um grupo de escaladores conquistou, em 8 dias de escalada, o que seria a maior via do país. A via alcançou cerca de 1.260 metros de extensão, tornando-se uma das maiores escaladas das Américas, comparável, no seu tamanho, às extensas rotas do Cerro Torre (Patagônia - até 1.200m) e do El Capitan (Yosemite – EUA – 1.100m), duas das montanhas com as maiores e mais importantes paredes para a prática de escalada em rocha do mundo.
       Foram utilizados na conquista, cerca de 300 quilos de equipamentos e mantimentos. Além do básico de comida, água e equipamentos pessoais, a equipe levou aproximadamente 600 metros de corda, uma furadeira com bateria sobressalente, equipamentos de filmagem e fotografia e dezenas de quilos de materiais de escalada.
A equipe Kaiak de Natura, foi formada por Márcio Bortolusso, Chander Cristian, Leandro Oliveira, Oscar Andres, Breno Azevedo.


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1a Repetição da via “Place of Hapiness” – Pedra Riscada, MG

 

Ficamos sabendo da conquista da via através de revistas nacionais e internacionais e através dos relatos do escalador e empresário paranaense Edmilson Padilha, que participou da empreitada ao lado dos escaladores alemães Stefan Glovacks, Klaus Fegler e Holger Heuber e do argentino Horácio Graton. Todos destacavam muito a imponência da pedra e a beleza e dificuldade técnica da linha, o que nos despertou o interesse em tentar a sua repetição. Decidimos então enfrentar o desafio e começamos a organizar a logística, um dos principais pontos para garantir o êxito de uma expedição como essa e uma das partes mais complexas. Sem patrocínios, partimos como uma expedição independente, contando apenas com nossa vontade e incentivo dos amigos e família. O grupo inicial então ficou reduzido a 5 escaladores que estavam disponíveis naquele momento e que caberiam na Toyota emprestada pelos pais do Neto. Eu (Daniel Araujo), Martino Singenberger, Sílvio Neto, Flávio Daflon e Fábio Muniz formamos a equipe, cada um com suas características específicas e dispostos a contribuir para o objetivo maior, o cume. Reunimos equipamentos, mantimentos e informações e embarcamos na madrugada do dia 31 de julho de 2010 com grande expectativa e aquele frio na barriga, sem saber na verdade o que nos esperava. Seguimos pela BR 116 que estava cheia de obras e estendeu um pouco a já longa viagem, mas Netinho acostumado com o caminho para a Patagônia nem se abateu. Aproximadamente às 18 horas estávamos chegando a São José do Divino, pacata cidade rural situada no leste mineiro próximo a Governador Valadares, ponto de partida para a Pedra Riscada. Na última luz do dia, avistamos ao longe, por de trás de morros e montanhas, a ponta do imenso monólito, mas não vimos muito, apenas uma silueta, o suficiente para nos tirar o sono à noite. Ligamos então para Edmilson Duarte, músico e proprietário de terras, com quem já havíamos falado previamente e estava nos aguardando para dar indicações do acesso a montanha. De alguma forma ele nos explicou como chegar a sua casa que, acredite, fica próxima a avenida presidente Vargas. Chegando lá fomos recebidos com a tão conhecida hospitalidade do interior para umas cervejas e descobrimos que “Ed” é também um tipo de relações públicas local. Após uma breve prosa ele nos levou para um tour na cidade incluindo a pousada e restaurante Colibri de Ouro, que se tornaria nossa parada obrigatória na cidade, a boate que incrivelmente tocava um bate estaca frenético e a casa do secretário de cultura e lazer que confraternizava um peixe com sua família e gentilmente nos convidou para mais umas cervejas e “cachacinhas”. Resistíamos bravamente às tentações sempre convictos da missão no dia seguinte, mas as histórias ficavam cada vez melhores. Voltando para casa do nosso anfitrião eles nos contou sobre a cultura local de emigrar para os Estados Unidos e particularmente sua experiência pessoal de atravessar a fronteira ilegal, fugindo com os “Coiotes” pelos desertos do México, e posteriormente de viver 16 anos trabalhando na noite como músico. Entre suas histórias e músicas, que, diga-se de passagem, são de ótima qualidade, combinamos de partir em direção a pedra às 5 horas do dia seguinte e mais uma vez Edmilson nos surpreendeu nos convidando para pernoitar em sua casa e disponibilizando um de seus funcionários para nos guiar até a entrada da trilha. Seguindo a motocicleta ainda discutíamos a estratégia da escalada enquanto a pedra se agigantava à medida que os quilômetros passavam, aproximadamente 30km no total. O frio daquela manhã nos influenciou em fixar o máximo de cordas e desistir de dormir em um platô de mato. Finalmente passamos uma última porteira e conseguimos visualizar claramente a aresta vertical “Place of Hapiness” destacando os imensos diedros e o imponente headwall alaranjado.

Paramos o carro a uns 200 metros da rocha e já avistamos uma picada. Rapidamente separamos equipamentos, comida e água e às 8 da manhã iniciamos a empreitada. A caminhada sobe por um rio, passa por um barranco e margeia a pedra seguindo alguns totens, aproximadamente 1 km ou 20 minutos. Chegando próximo a base há vários blocos e nos surpreendemos com uma cobra que deu um bote no Fabinho já alertando a galera para a aventura que estava por vir. As primeiras cordadas não passam do 3º grau, mas a rocha podre e a distância entre as proteções ditam a dificuldade e a cautela. A quinta cordada começa com um sétimo grau técnico que não é difícil, mas a qualidade das agarras complica a escalada, e assim que a parede perde a inclinação e o grau cai para 4º+, não mais é possível avistar as chapeletas. Nesse momento Martino bravamente enfrentou um “run out” de aproximadamente 8 metros e ao chegar à parada abaixo dos diedros gritou aliviando a tensão: “Porrra, difícil pra…, tô na minha”. Iniciávamos então as cordadas mais complicadas. Optamos por artificializar as fendas devido à qualidade da rocha e ao pouco tempo que tínhamos para nos ambientar. Demoramos em torno de 2 horas para transpor 100 metros de diedros de inclinação bem peculiar entre micronuts, camalots e estribos.
  
O dia já estava quase acabando, mas ainda faltava um oitavo grau atlético para atingir a meta previamente estipulada da 10ª cordada. Martino mais uma vez foi valente e enfrentou além da negatividade da rocha e do cansaço do corpo, pouca luminosidade e seu subconsciente que a todo tempo o alertava para o perigo. Depois de algumas reclamações, várias emoções, e o primeiro vôo da expedição, ouvimos mais umas vez o grito de alívio do Suíço: “Entón! Tô na minha”. Em seguida gritamos todos em seqüência, cada um a sua altura, celebrando além da batalha vencida, a vida. Fixamos as cordas e descemos curtindo a paisagem, o pôr do sol e sentindo o corpo exausto. De volta ao acampamento, comendo o melhor macarrão do mundo, mudamos os planos mais uma vez. Resolvemos descansar o dia seguinte para então concluir a escalada no terceiro dia. Tudo que fizemos no segundo dia foi uma breve visita ao restaurante do Domingos para recarregar as nossas baterias e das máquinas fotográficas.
No terceiro dia, acordamos às 5 da manhã e rapidamente subimos um misto de cordadas fáceis e cordas fixas até a base do headwall. Às 9 horas Fabinho já estava entrando na cordada crux da via, um nono grau que liga a fenda a aresta vertical passando por um negativo atlético com a grampeação nem sempre tão próxima. Fabinho delirava com a movimentação, quando, perto do final do esticão, tão logo a parede verticalizou, ele se depara com o segundo “run out” obrigatório da via. Acredito que uma queda chegando à parada seriam uns 15 metros de vôo, mas Fabinho com toda calma e resistência passou sem problemas. A partir desse momento a via se transforma em uma esportiva de parede que parecia sem fim, cordada após cordada, todas atléticas, com agarras, fazendo lembrar por vezes a Chacrinha em Copacabana, a face norte ou o Totem do Pão de Açúcar. Cheguei a pensar que não chegaríamos ao cume ainda com luz, pois havia sempre outra parede vertical em nosso caminho.
Mas assim que saímos do sétimo grau, na 14ª cordada, instauramos quase que uma corrida na pedra, e às 6 da tarde, sob a luz do crepúsculo, assistíamos o mais belo por do sol da última semana sentindo uma paz momentânea. Tiramos fotos, fizemos um lanche, organizamos o equipamento, combinamos uma estratégia para a longa descida que estava por vir. Demoramos metade do tempo da escalada para descer. A corda prendeu uma vez na saída do headwall devido ao atrito da barriga. Nesse caso cordas finas fazem a diferença. A uma da manhã, depois de 20 horas de ação e emoção, tocamos o solo e fomos invadidos por uma paz, dessa vez absoluta, e um relaxamento que tornava difícil à volta para o acampamento.
Acordamos tarde no dia de partir, mas nem tão devagar, afinal ainda tínhamos 800 km de estrada pela frente. Passamos na cidade para bater o ponto no restaurante Colibri, agradecer a hospitalidade local e comprar os CDs do Edmilson. Com certeza, depois dessa experiência, suas músicas tocarão diferente em nossos ouvidos. Obrigado pela hospitalidade!
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A conquista da mineira Pedra Riscada
Edemilson Padilha representou o Brasil em um grupo de reconhecidos escaladores gringos que conquistou uma bela via na Pedra Riscada, o maior monólito das Américas.
Há 18 anos ingressei no mundo da escalada. Por essa época, um dos escaladores mais famosos do mundo era o alemão Stefan Glowacz. Reconhecimento mais que merecido: ganhou inúmeras competições internacionais e escalou as vias mais difíceis que existiam nos anos 90. De lá para cá, passou cada vez mais a se envolver em projetos de escalada em lugares remotos como Antártida, Patagônia e Ilha Baffin, no arquipélago Ártico, no Canadá,, tornando-se um dos escaladores mais completos de todos os tempos. Participar de uma expedição escalando lado a lado deste rock master, para mim seria uma experiência incrível.
Quando tive a oportunidade, eu era o único brasileiro da expedição. Além de mim, nosso time era composto de dois escaladores alemães – Stefan Glowacz e Holger Heuber, um fotógrafo alemão – Klaus Fengler, e um escalador argentino – Horacio Gratton. Foi este amigo argentino que me apresentou aos alemães e me convidou para fazer parte da equipe. Eles haviam visto algumas fotos do Brasil e ficaram tentados pela ideia de abrir uma via aqui.
Depois de uma semana andando pelo leste mineiro, pudemos vislumbrar o que buscávamos: a aresta norte da Pedra Riscada. Parecia grande, mais ou menos 800 metros de granito vertical e difícil, ou seja: perfeita. A sorte estava lançada. Montamos nosso campo-base  em um refúgio de montanha a 5 km da base da via. Depois dirigimos até Belo Horizonte para buscar os alemães no aeroporto; 500 quilômetros separam a capital mineira de São José do Divino, onde se localiza a Pedra Riscada, considerada o maior monólito das Américas. Chegamos ao Refúgio Pedra Riscada às quatro da madrugada, num dia cálido do início de julho deste ano, e às oito da manhã, Edimilson Duarte, seu proprietário, nos despertava com Bob Marley no último volume. Graças a ele, começamos a escalada naquele mesmo dia. Cansados e enfrentando nosso primeiro dia de sol forte com grandes mochilas nas costas, alcançamos a base da via, seguindo por uma trilha que havíamos aberto previamente. Trilha essa responsável por despertar a hérnia de disco que vive nas minhas costas e que estaria “ativa” durante toda a viagem. Dois dias de abertura da via, por um terreno menos vertical, nos deixaram na base de um diedro (formação que se assemelha a um livro aberto) impressionante e vertical a 350 metros de altura, cortado por uma fissura que, por vezes, sumia. As fissuras são bem-vindas nesse tipo de escalada, pois por elas podemos subir mais rapidamente. Eu e o Horacio havíamos guiado até ali, o terceiro dia seria dos alemães. Stefan e Holger progrediram metro a metro pelo difícil caminho enquanto transportávamos água e cordas para serem fixadas. Nessa primeira etapa, íamos deixando as cordas presas na pedra e, à noite, descíamos por elas para tornar a subir na manhã seguinte. Enquanto isso, Klaus, fotógrafo da expedição, nos acompanhava em todos os momentos, disparando centenas de clicks com suas poderosas câmeras. Fazíamos este revezamento, uma dupla escalava enquanto a outra dava apoio. Quando era nossa vez de conquistar, era como se o bambambã Glowacz fosse um dos nossos sherpas, brincávamos. A equipe estava trabalhando bem e as cordadas (trechos de 50 metros aproximadamente) foram se mostrando cada vez mais difíceis para nossa alegria, pois buscávamos uma linha perfeita e isso pressupõe alta dificuldade de escalada em rocha. O diedro foi trabalhoso e tomou dois dias de esforços.
Planos adiados? No quinto amanhecer, tínhamos um problema: a rocha que se via adiante parecia podre e estávamos todos muito preocupados. Se nossas suspeitas se confirmassem, teríamos de tomar uma decisão que poderia inclusive ser a de desistir da via. Nesse dia, eu e Horacio estávamos na pedra lutando com os cliffs (ganchos que são colocados em agarras naturais da rocha, usados como apoio para podermos bater as chapeletas, pontos de proteção) e os alemães na festa da decisão do Campeonato Municipal de Futebol de São José do Divino. Dá para imaginar? Klaus tornou-se o fotógrafo oficial do evento. E o Glowacz passou de rock master a rock star, pois o pessoal da cidade é apaixonado por escaladores. Nós só chegamos para o fim da festa, e com boas novidades: a rocha não estava nada podre (era perfeita!), as agarras não quebravam e a dificuldade não baixava! Tudo o que a gente queria. A comemoração foi curtir um forró na praça central, regado a bebidinhas, e um pouco de chuva.
Sonhando nas alturas No outro dia, sobrava só ressaca, a nossa e a do tempo. O Stefan andava de um lado para o outro maldizendo as determinações de São Pedro, porque pela tarde do dia anterior abriu um solão e nós perdemos um dia de escalada. O problema é que os gringos estavam com os dias contados, então mudamos a estratégia. Subíamos para ficar dois dias na parede e dormíamos nos portaledges (barracas suspensas) montados a 500 metros de altura. São como macas fixadas na pedra, que oferecem uma boa noite de sono e até sonhos, para quem não tem medo de altura, claro. Foi assim que num dia ensolarado deixamos os alemães na base da via e voltamos para o refúgio buscando um descanso merecido, depois de muitos dias de estrada e escalada. Enquanto a facção europeia torrava no sol, tomávamos um refrescante banho de piscina. “Vidinha mais ou menos”, como diriam os mineiros. Mas nossa hora não tardaria. Estávamos ansiosos por notícias quando buscamos a outra parte da equipe dois dias depois. Pelas caras de alegria, já dava para notar que as cordadas abertas tinham sido espetaculares; e não era para menos, grandes dificuldades técnicas, parede vertical, rocha excelente. A linha estava ficando perfeita e não poderia ser diferente, estávamos na montanha ideal! À noite, comemoração com pasta à carbonara, feita pelo chef Stefan, o melhor escalador e, de quebra, cozinheiro da equipe. No outro dia, às seis da manhã já estávamos tomando café, e, com as baterias da furadeira carregadas, partimos destemidos para mais dois dias de “rock‘n roll”. Subimos, eu e o Horacio novamente, 600 metros de cordas fixas e seguimos abrindo a via. Cada metro era conquistado com muita dificuldade naquela aresta vertical. Quase à noite, nos abrigamos num dos portaledges. Conforto total: sacos de dormir, queijo mineiro, mate e até boa música. Acordamos com um tempo fechado, que anunciava uma desagradável chuva a cair a qualquer momento. Mas não podíamos esmorecer, tínhamos uma missão: terminar a via, rapelar tudo e voltar a tempo para o show do Zé Ramalho, que animaria São Félix de Minas à noite, e que seria aberto pelo Edimilson Duarte, o dono do refúgio onde estávamos instalados, músico, e dos bons. Fui subindo completamente absorto pela beleza da escalada que realizava. Passei uma saliência pronunciada de rocha e pensei que a rota ficaria menos vertical, mas as dificuldades já aumentaram após alguns metros. Num dos lances deste dia, quando puxava a furadeira para bater uma proteção (chapeleta), uma agarra do pé quebrou e quase fui abaixo com furadeira e tudo. Pedi água para aliviar o sol que não dava trégua, mais chapeletas e uma nova bateria para a furadeira. Depois de recuperado, nada de moleza. Já tínhamos 700 metros e nada de cume. Às três da tarde eu estava destruído e acabaram as baterias. Decidimos descer, mas quando olhamos para baixo, percebemos que Klaus estava subindo. Olhamos um para o outro já diagnosticando: ele vai querer fazer uma sessão de fotos e, infelizmente, nós seremos os modelos... Dito e feito, foram horas de olha para lá, coloque a sua mão mais para cima, aponte ali, etc. Tudo isso a 700 metros de altura, com possibilidades de levar quedas impressionantes e ainda de perder o show! Foi estressante, mas as fotos valeram a pena. No fim, deu tudo certo, o Zé Ramalho esteve muito bem, o Edimilson também, e os alemães amanheceram no forró. E de lá voltaram direto para a base da via, para encadenar todas as cordadas. Encadenar significa escalar novamente metro a metro, sem cair, nem apoiar-se nas proteções (chapeletas fixadas na pedra ou proteções colocadas em fissuras). Isso serve para graduar a dificuldade técnica de cada trecho para que outros que queiram repetir a via possam saber onde estão se metendo. Nos juntamos a eles no outro dia para alcançarmos o cume. Já era o 11º dia de escalada e jumareamos (subimos pelas cordas) 850 metros! Chegamos um após o outro ao topo da aresta e festejamos muito. Estávamos impressionados com a beleza da via e da paisagem que nos cercava. Pela perfeição que foi toda a trip, pelo bom entrosamento da equipe e pela hospitalidade e alegria dos habitantes locais, resolvemos batizar a via com o nome Place of Happiness.
850 m, 9a, Aresta norte da Pedra Riscada, São José do Divino, MG. Escaladores: Edemilson Padilha (BRA), Horacio Gratton (ARG), Stefan Glowacz (ALE), Holger Heuber (ALE) e Klaus Fengler (ALE). Julho/2009.

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Expedição na Pedra Riscada, Minas Gerais






Fonte: Site Red Bull
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Place of Happiness na Pedra Riscada

Edmilson Padilha compartilha as fantásticas fotos da conquista
realizada na Pedra Riscada, Place of Happiness (IXa) por ele e os
escaladores Horacio Gratton (ARG), Stefan Glowacz (ALE) e
Holger Heuber (ALE). As fotos são do fotógrafo alemão Klaus Fengler.

Segundo Ed foi "foi uma experiência alucinante, pois escalei ao lado
de grandes escaladores e além disso, abrimos uma via que é uma
'linha mágica' ou uma 'linha perfeita', num lugar perfeito.

A via percorre a aresta norte da Pedra Riscada (São José do Divino-MG)
por 800 metros, toda em livre!!! Com dificuldades até IXa
(graduação brasileira). Foram duas semanas de trampo pesado,
finalizando com um show do Zé Ramalho e a "alemãozada"
caindo no forró! (31.07.09).







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Pedra Riscada

A Pedra Riscada é provavelmente o maior monólito do país, com aproximadamente 950 metros de desnível, constituído por granito “puro-sangue”. Não é possível compreender as dimensões da montanha até se postar ao seu pé. São muitas as opções de linha de via, mas nenhuma é fácil, muito menos curta. Existe uma lenda local sobre um fazendeiro da região que teria escalado até o topo da pedra e de lá soltado foguetes. Mas foi avaliado por diversos escaladores que isto seria tecnicamente complicado, frente às dificuldades encontradas. Desta forma, a primeira escalada oficial foi realizada por Eduardo Vianna “Ralf”, Emerson Azeredo e Edgardo Abreu. O trio escalou a via “Bodífera Ilha”, que percorre o flanco leste da pedra contornando a mesma até atingir o cume pela aresta norte.

A abertura desta via foi feita em duas empreitadas, tendo sido a primeira parte conquistada por Susan A. M. B. Strickland “Susie”, Leandro Maciel “Chester” e Eduardo “Ralf”. O potencial da Pedra Riscada é enorme, e outra via foi conquistada em julho de 2002, na face oeste. Esta via segue um espetacular diedro com mais de 500 metros de extensão. Outra equipe promete tentar a gr
ande canaleta que corta a montanha do pé ao topo, durante o fechamento desta edição.



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A Conquista da Face Sul da Pedra Riscada

O CEU receberá o escalador e montanhista Bito Meyer, uma das lendas do Montanhismo Nacional e Sul Americano, para nos contar sobre sua mais recente conquista, a Face Sul da Pedra Riscada,que é o quinto maior monolito do planeta. A conquista da Via “Cria Cuervos” (7 E5 D6) com seus 1200m de parede foi realizada ao longo de cinco anos e segundo o próprio Bito foi a via mais difícil e arriscada que ele já conquistou até hoje. 







Palestra e Audiovisual de Bito Meyer

“Conquistando a si próprio – A Conquista da Face Sul da Pedra Riscada”



O CEU (Centro Excursionista Universitário) receberá o escalador e montanhista Bito Meyer, uma das lendas do Montanhismo Nacional e Sul Americano, para nos contar sobre sua mais recente conquista, a Face Sul da Pedra Riscada,que é o quinto maior monolito do planeta. A conquista da Via “Cria Cuervos” (7 E5 D6) com seus 1200m de parede foi realizada ao longo de cinco anos e segundo o próprio Bito foi a via mais difícil e arriscada que ele já conquistou até hoje.

Bito Meyer foi um dos primeiros brasileiros a escalar montanhas de extrema dificuldade como o Fitz Roy (primeiro desta foi o Makoto), Cerro Torre e Agulha Poincenot (um dos recordes de velocidade de ascensão mantidos até hoje) na Patagônia, Bolívia, El Captain nos EUA e a ter conquistado em terras brasileiras centenas de vias de escalada por todo o país.


Fonte: Escalada Brasil 
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A CONQUISTA DA FACE SUL DA PEDRA RISCADA
Por Bito Meyer 

Foi em 2001 que conheci a Pedra Riscada, voltando de Lajedão, uma cidadezinha na divisa dos estados de Minas e Bahia, onde se encontra a Pedra do Fritz com seus paredões de granito de aproximadamente 600m e de onde retornávamos depois de abrirmos a via “Welcome to Tihuana” (A2+ E3 D5 grau sugerido) , uma via que abri com Edemilson Padilha, proprietário da “Conquista”, onde eu trabalhava a uns 6 meses. Após um período de treinamento que fizemos juntos, partimos para nossa empreitada. Essa viagem em particular seria bem significante, pois eu voltaria a escalar após um ano parado devido a uma cirurgia que tinha feito e conheceria a Pedra Riscada e para o Edemilson, a via “Welcome to Tihuana” seria a sua segunda abertura de via em grandes paredes; mas acabamos subindo só uns 150m de via pois o final era em pedra podre e teríamos que subir furando para progredir em cliffs; preferimos descer.

Na volta resolvemos ir até São José do Divino para conhecer a Pedra Riscada, o quinto maior monolito do planeta. A primeira visão que se tem dela é já na estrada que chega a São José do Divino, ela aparece imponente, parecendo uma poltrona gigante, tanto que as pessoas da cidade a chamam de Trono de Deus, ou coisa parecida.

Até aquele momento existiam apenas algumas vias e a sua Face Sul estava intacta. Era um belo paredão que esperava alguém para subi-lo e esta era uma via que eu gostaria de fazer, pois tinha mais de 1000m de pedra a ser escalado, apesar da aparente ilusão de não ter mais de 400m. A idéia de subi-la a cada dia ia tomando forma em meus pensamentos. Conto ao Edemilson que trabalharia só mais algum tempo e que depois eu iria “atrás” da pedra. Esta seria a segunda vez que sairia de um emprego para subir montanhas, a primeira vez foi em 77, quando sai de um trampo que tinha em um jornal em Curitiba para ir conhecer o Itatiaia e as montanhas do Rio de Janeiro.

Com patrocínio da “Conquista” para esta investida, parto finalmente em direção a “Pedra”.

Convido um aluno meu, o Giorgio Zofoli, para me acompanhar. Eu o havia instruído num curso básico de escalada em Campos do Jordão,SP e ele tinha tido um bom aproveitamento, era forte e determinado o suficiente para me ajudar na empreitada que esta Escalada prometia.

Lotamos o carro e partimos rumo a “Pedra”, não tínhamos pressa, escolhemos as estradas secundárias para fazer uma viagem calma e sossegada, sem o terror das estradas principais. Chegamos no local que seria nossa base e montamos acampamento. A caminhada até a base era fácil e cheia de carrapatos e mosquitos, mas privilegiada, pois, caminhávamos em meio as últimas árvores que restavam na região e que não puderam ser cortadas devido ao terreno ser acidentado demais para poder baixá-las; só restaram alguns exemplares de árvores maravilhosas num raio de muitos quilômetros. Montamos nosso acampamento junto da parede, armamos nossas redes e ficamos desfrutando do lugar. A noite um forte vento e chuva nos deram boas vindas! Pela manhã, o sol nos dava coragem!

Eu teria que guiar todos os largos e o Giorgio me daria segurança e ajudaria com o içamento das mochilas. Consegui abrir 3 largos, mas ao descer para base, no final do dia, observei um itinerário melhor para subir e ao retornarmos no outro dia entrei neste novo itinerário e ficou mais rápido, mas tive que escalar 3 novos largos.

A parede era composta de varias agarras, mas tinha um porém, 30% das agarras quebravam a todo o momento, ou era uma agarra de mão ou de pé, criando uma onda de adrenalina constante, eu tinha que escalar atento e volátil. Subia largos inteiros sem parar para colocar grampos e somente montava a parada para meu companheiro subir e rebocar os equipamentos.

Chegamos ao Platô do Bonsai e montamos nosso acampamento de parede e nesta primeira noite uma chuva tentou literalmente nos arrancar do nosso lar provisório. Pra nossa sorte o sol saiu pela manhã e em algumas horas estávamos prontos e secos para escalar novamente.

O lance a seguir era mais inclinado e se podia ver que era de muita “responsa” (um solo de 6ºgrau de 30m à vista, sem a referência de que alguém já tinha feito e com uma queda de 60m, acertando um platô de brinde!). Subo sem mochila para ter mais liberdade de movimentos e em poucos minutos estava “em cima” da moita que serviria de platô (acabo solando esta cordada por mais de 10 vezes, até ser possível chegar ao cume!). Bato os grampos da parada, meu companheiro sobe para me dar segurança para o próximo lance e com uma corda estática de 100m e mais um pedaço emendado, escalo um largo de 120m sem colocar proteção. Chego a Banheira das Cabritas, o lugar é único, um mundo de granito, ali podíamos dormir, havia um pequeno espaço plano e tínhamos uma fartura de água amarela que chamávamos de “xixi de cabrita”. O costão a seguir, que imaginávamos deitado, agora se revelava ser bastante inclinado e para minha surpresa, tinha que escalar lances constantes de 4º grau ou mais, em aderência e com mochila nas costas, o trabalho era mais penoso que difícil.

Conseguimos mandar aproximadamente 600m, até agora tinha sido possível escalar os largos sem precisar bater grampos entre as bases, mas agora a parede fica mais difícil. Depois de escolher o pilar por onde eu gostaria de subir, já que são tantos, começo a escalar, uma agarra de mão quebra e eu tomo um “amarelão”, o que me tira a concentração, um platô abaixo de mim ficava de boca aberta esperando um vacilo meu! Aquilo me tira a paz e nos próximos 20m coloco 3 chapas, a mais ou menos uns 6m uma da outra, aquilo me acalma e volto a escalar com tranqüilidade, sem a necessidade de se utilizar de força e os próximos 20m consigo “mandar em paz”, sem grampear, apesar do largo ter ficado exposto e difícil. Escalava com uma sapatilha 5.10, precisa, segura e confortável, e sua sola C4 é perfeita para escalada de responsabilidade.

Tivemos que descer umas quatro vezes e ir ate a SJD, para secar roupas, descansar, comprar comida, tomar umas geladas e etc... Nos aproximamos dos primeiros caraguatás gigantes, era como se escalássemos em meio a uma multidão de estranhos indivíduos e a escalada agora era mais difícil, mesmo assim consigo escalar e colocar os grampos bastante distantes uns dos outros, em media 10m e algumas vezes até mais distantes, era muita parede e parar para colocar proteções demoraria ainda mais a escalada. Para a escalada render esticava os largos ao máximo e mesmo assim, a parede era muito grande e víamos isso quando esticávamos uma corda de 60 m e tínhamos a sensação de não termos saído do lugar. Percebemos, para a nossa frustração que não seria possível chegar ao cume desta vez e que nosso tempo acabara, meu companheiro, que tinha resistido com bravura e bom humor na sua primeira experiência em montanha, agora tinha que voltar para casa e cuidar da vida. Um pouco antes de terminar o último largo, coloco um rebite e resolvo descer, pois tínhamos que aproveitar o tempo que tínhamos de luz para chegar até as “Cabritas”. Ainda faltava muita rocha, era incrível saber que tinha rendido aproximadamente 700m de escalada e os primeiros 600m foram praticamente em solo, com grampos só nas paradas!

Descer de uma via inacabada é um momento difícil e frustrante e a única coisa que nos conforta é saber que você voltará! Alguns meses depois, em 2002, voltei novamente com outra turma, para tentar outra rota, mas pela pouca experiência do grupo, usamos minha rota anterior para ganhar altura e a partir do Platô das Cabritas, saímos por uma rota à direita. A pedra cobrara cada metro escalado e meus companheiros acharam a tarefa muito difícil para eles e não estavam preparados para aquele tipo de escalada. Novamente nosso tempo acabou e tivemos que abandonar a escalada.

Novamente, alguns meses depois, em 2003, após abrir algumas vias em Campos do Jordão, voltei uma terceira vez com amigos e desta vez a viagem foi mais dura conosco. Na primeira noite fomos atacados por “trocentos” carrapatos e eram tantos que tínhamos carrapatos por todo o corpo e quanto mais nos movíamos no denso capim que nos acompanha até a base, mais carrapatos grudavam em nós e a coceira e o desconforto era inevitável. Não sabia que carrapatos eram aqueles e se teríamos maior conseqüência, apesar do ânimo do pessoal, como eu era responsável pela equipe optei por descer do Platô Dorme Mal. Descemos para dar uma chance a coerência.

Um ano depois, durante um curso de Montanhismo que eu ministrava, convidei um aluno, o Eiji Fujii para terminar seu curso na Pedra Riscada, seria um grande desafio pois poríamos aí “a prova” todos os ensinamentos, seria uma grande experiência para o Eiji, já que teríamos que colocar em prática tudo o que havia sido ensinado em seu curso, do bivak ao içamento de cargas, utilização de cliffs, grampeação, logística de parede e etc., e tentaríamos terminar a rota eu havia começado.

Novamente enchemos o carro de tralhas e partimos para SJD. Mais uma vez solo aquela imensa parede, passo pelos mesmos lances que sabia que me levariam pra cima. Tivemos que fazer muitos transportes de equipamentos até a base e depois içá-los. Entre chuvas, carrapatos, mosquitos, sobe e desce e cervejas. Chegamos a três largos do final e novamente tivemos que descer, nosso tempo já era!

Nesta temporada, solo por quatro vezes os mesmos lances até chegar no início do Pilar Central onde havíamos deixado nosso acampamento. Meu aluno, Eijii, tinha terminado seu curso, com o meu incentivo, apesar de muito medo e receio, acabou guiando, caindo, grampeando e vivenciando o melhor do Montanhismo e era muito bom estar ali com os carrapatos , tomar água amarela ,coçar o dia inteiro, ficar como macacos catando piolho e sendo comido por uma nuvem de mosquitos, mas eu não tinha terminado a via outra vez e a idéia de voltar já me deixava feliz.

Duas semanas depois eu estava voltando acompanhado de duas feras do Montanhismo, Bruno Melo e Rafael Specian, guias e criadores de muitas vias na região da Pedra do Baú. Não tínhamos muito tempo, tínhamos só uma semana e eram poucos dias, mas valia a “trip”, ver a “Pedra” e estar na companhia destes escaladores para mim era um privilégio.

Eu queria terminar a via da face sul, era uma linda formação de granito e seu tamanho era revelador, também pela oportunidade de poder abrir uma via, de praticar Montanhismo na sua essência e de percorrer passo a passo mil e tantos metros de um granito, hora liso, hora podre e sem nenhuma fissura. É difícil deixar uma via sem terminar ...

Eu queria fazer esta via com amigos e com pessoas apaixonadas pelo que são e pelo que podem fazer, pessoas que tenham consciência da oportunidade de serem montanhistas. Não me interessava nesta altura do campeonato, fazer uma escalada profissional. Subir carregado de adesivos e etiquetas, de patrocínios duvidosos e de responsabilidades mal formuladas, era uma bela Montanha para trazê-la tão baixo.Lá estava Eu, novamente estava guiando aqueles largos insanos e inimagináveis. Como não tem grampo, você não tem uma “reta” para seguir, você faz o itinerário com os olhos, mas você pode sair de um quarto grau e facilmente entrar em lances de 7 grau ou entrar num setor de pedras podres ou lisas... diversão garantida.! Caberia a mim guiar aos ditos 600m iniciais, atento, com responsabilidade e longe de acidentes, pois não é isso que procuramos quando saímos de casa para escalar e cada um sabe de suas possibilidades e o quanto é honesto consigo próprio e como eu havia aberto os lances e sabia por onde eu tinha escalado, seria mais rápido. Esqueço meus tênis de escalada e subo com um tênis de cada marca, pois foi a maneira de encontrar conforto, já que calçava um tênis do Bruno e outro do Rafa e esses tênis sabiam o que fazer. Eu guiaria até a base do Pilar Central e nossa idéia era chegar lá, naquele dia.

Guio ate o Platô Invisível, onde passamos a noite, enquanto procurava um lugar para fazer café os dois escalam aproximadamente mais uns 100m e fixam a corda para facilitar o dia seguinte . Neste platô, que não existe, se der sorte você acha os únicos centímetros aonde é possível uma só pessoa dormir, os outros terão que ter criatividade, mas no final todos dormem bem!

Na manhã seguinte Bruno e Rafa passam a liderar e Eu vou com as mochilas, naquele dia os “mano” tiveram um dia de Samurai, decifrando o quebra-cabeças que levava até a próxima chapeleta e como guerreiros, subimos até aonde tínhamos parado na minha última tentativa. Chegar até ali tinha nos esgotado, pois subimos muito rápido, a via é muito tensa e obriga o escalador a subir sempre “blocado” e nossos dedos, antebraços e cérebro já sentiam o esforço feito até aquele momento.

Passamos uma noite de cão! Bruno e Rafa espremidos contra a parede por suas redes e eu “cozido” por ter passado a noite sentado em um caraguatá. O frio, o vento e a neblina foram os adicionais da noite. Acordamos literalmente podres. O tempo tinha mudado e a parede acima nos dizia que nosso tempo era curto . Enfim já sabíamos disso.

A escalada do Pilar Central é mais lenta, mais técnica e a rocha mais quebradiça. No nosso quarto dia de viagem estávamos cansados, tocamos somente 15m de via nova e por fim concordamos que nosso tempo era curto e resolvemos descer e curtir os dois dias que nos restavam na vila, olhando as morenas, entre uma cerveja e outra.

Já estava acostumando com o fato de descer e voltar, já não era mais uma escalada, era sim uma relação, Homem e Montanha, eu estava feliz, estava praticando montanhismo. Sabia que mais uma viagem e com os dias certos eu terminaria a Via . Alegrava-me o fato de saber que mais uma vez voltaria a São Jose do Divino, encostar o cotovelo no balcão da mercearia do Zezinho (onde nóis é vip!) e ficar de prosa; era muito bom saber que era uma relação com a Montanha que nos possibilitava isso e era assim que seria, com muitas visitas; coisas do Montanhismo.

Eiji teria novamente uns dias disponíveis, em agosto de 2006, e estava “afim de” voltar para tentar novamente. Em Maresias, enquanto espero os dias de sairmos, “abro” uma falésia que eu havia descoberto no primeiro dia que cheguei a Maresias e que havia utilizado para dar aula de conquista e grampeação para o Eiji onde abrimos uma primeira via e com corda de cima colocamos algumas chapas para uma futura via e para não ficar parado enquanto o Eiji estava ocupado administrando o hotel de sua família e se preparando para poder viajar, vou sozinho para a falésia e coloco umas 12 vias esportivas com graus para todos os gostos, todas abertas com talhadeiras manuais, para treinar e ficar preparado pois sabia o que me esperava se tratando de Pedra Riscada.

O Eiji não guiaria, pois não tinha treinado para guiar uma via como aquela e não queria colocar mais grampo que o necessário e ele acabara de se formar e ainda teria que fortalecer seus conhecimentos e experiência de ponta de corda, não valia o risco; mas era muito bom contar com seu apoio e sua companhia.

Partimos com o patrocínio do Hotel Côco Nuts, situado em Maresias bem no meio do agito dos bikinis e a “Falésia do Bito”(como já ficou conhecida) bem ao lado.

Ao chegarmos no nosso velho local de parada, sabíamos que tínhamos um duro trabalho a ser feito. No outro dia escalamos até a base do Pilar Central e montamos nossos “porta ledge”, naquela noite choveu e como a pedra fica impossível de escalar descemos até SJD para descansar e se refazer do içamento dos equipamentos . Assim que o tempo melhorou voltamos a parede e novamente solo aqueles 400m e os últimos 120m escalo a noite sem lanterna; esgotados, dormimos ao lado da água, ao relento e sem saco de dormir e durante a noite precisamos de nossos cobertores térmicos!

Chegamos aonde a via havia parado e escalo uns 15m, alcanço o tão desejado “Platô da Arvore”, que não era bem um platô, mas seria melhor dormir ali do que em outro lugar, pois ali era possível ficar em pé e cozinhar com mais tranqüilidade, escalo mais uns 15 m e desço para dormir. No dia seguinte consigo escalar uns 45 m, a via agora era lenta e a pedra era mais podre que nunca, mesmo assim estava predisposto a não parar para grampear e esticava a distância entre cada chapeleta o máximo que podia.

Naquela noite desço completamente esgotado. Quando estou chegando no “quase” platô escutamos um estalo e logo após o platô cai e ficamos dependurados no escuro, tive que montar minha rede, que rasgou e tive que passar a noite sentado novamente em um caraguatá e o Eijii, que perdera uma vareta de sua rede passou a noite espremido contra parede. Nossa comida havia acabado e nossa água estava no fim, tínhamos uma só refeição. Passo a noite acordado, esperando a oportunidade que aquele dia me possibilitaria.

Acordei moído, não tínhamos mais comida, somente algumas balas e proteína em barras que eram horríveis. Sem comer e sem café começo a escalar. Tínhamos que atingir o cume aquele dia, não tínhamos mais comida, nem água e nem mais tempo; era tudo ou nada e eu não conseguia saber quanto ainda faltava, pois o desenho da pedra não permitia que eu decifrasse o melhor caminho. Comecei a escalar e nos primeiros metros já eu estava exausto, a noite em claro cobrava seu preço.
Subo sem fazer parada, faríamos isso depois, na descida. Passo o dia todo escalando.

Apesar das chapeletas estarem em media a uns 10m de distância uma das outras e algumas até mais; tenho que colocar várias no dia; subimos aproximadamente 100m de parede e as 6h da tarde chego ao final da parede!

Tento comemorar com uns gritos, mas não tinha força para gritar, estava muito feliz, olho ao meu redor e vejo o dia chegando ao fim, as cores do anoitecer já enchiam o céu, as poucas luzes da região já estavam acesas, escuto um grito vindo lá de baixo nos saudando; o dia morria morno e meu coração se enche de alegria e gratidão e respiro profundamente aquele momento!
Uso minhas últimas forças para bater os 2 últimos grampos que coloco pra meu espanto, rápido!

A via tinha chegado ao fim, depois de tantas tentativas, aquele momento tinha chego como deveria ser, quando se trata de montanhismo, da relação que os homens tem com as montanhas e quando se põe a “cara a tapas”.
Agora eu poderia sonhar com uma nova escalada!
Espero o Eijii subir, comemoramos, pois tanto para ele como para mim, aquele momento tinha cobrado de nós muito esforço, mas havíamos tido tanto em troca, que a única coisa que não nos lembrávamos era do esforço que nos custara a chegar ali.

Tentamos ir até a parte mais alta, mas como não tinha trilha tentamos abrir uma, o chão era fofo e difícil caminhar, afundávamos na vegetação, propriamente dita, não conseguíamos ver mais e teríamos que usar nossas últimas pilhas e estávamos esgotados e famintos, queríamos comer, dormir e até tomar banho e escurecia muito rápido, nosso ânimo e nossa energia tinham sumido, o dia tinha acabado. Desistimos e começamos a baixar, chegamos ao nosso ex-platô e decidimos descer a noite. Chegamos ao Platô Invisível, comemos e assim que eu deitei, durmo imediatamente, tudo o que tinha de direito; acordamos tarde e eu, mais cansado ainda . Não tínhamos mais café, nem comida e o recurso era descer rápido, pois só pensávamos na comida da pensão, em banho, coca cola, cerveja e em todo tipo de pecados. As mochilas estavam pesadas como sempre e os rapéis eram intermináveis e demorados; a corda era pesada para puxar e eu já não fazia mais nada, ficava esperando o Eiji fazer esse trabalho e ao meio dia, tocamos o chão.

Metro a metro tinha escalado uma das minhas mais difíceis vias, tínhamos conquistado a Face Sul da Pedra Riscada, uma via maravilhosa e que me gratificava com cada metro de rocha escalada. A “Cria Cuervos”, não é dessas vias que vale “a pena” repetir; se você tem consciência do risco envolvido, é melhor abrir outra via. Se fosse classificar a via, para fornecer uma referência em números, eu diria que ela é uma via de 7º E5 D6.

A cada metro escalado estava perto de um grande acidente e tinha que jogar com toda a experiência adquirida nestes 40 anos de montanhismo e escalada. Nem na Patagônia, El Capitan, Bolívia e etc... eu estive tão perto de um acidente ou para ser sincero, perto da morte, mas foram os momentos mais intensos que tive na minha vida de Montanhista e como estive nesta via e tudo pelo fato de não querer encher a via de grampos, de não carregar minha coragem, nem meu conhecimento na mochila.

Eu escalo, simplesmente jogo o jogo, e não como se fosse uma penitência, mas sim, como uma dádiva.




Fonte: Brasil Vertical

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'Aonde o vento faz a curva´ é a nova via de escalada na Pedra Riscada


Descoberta por escaladores mineiros, que já haviam alcançado o seu cume por outra face da montanha, a Pedra Riscada encontra-se no município de São José do Divino, a aproximadamente 450km de Belo Horizonte, próxima à divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

São José do Divino está localizada no leste mineiro e sua região está sendo reconhecida como o berço das maiores paredes verticais do Brasil, que variam de 250 a 1.200 metros de altura. A Pedra Riscada apresenta-se como a maior destas montanhas, sendo o maior monolito rochoso do país e um dos maiores das Américas. Atualmente, consagra-se como a montanha que possui as maiores paredes escaláveis do Brasil, com 1.480 metros de altura em relação ao nível do mar e abrigando faces de até 1.200 metros de altura.

A nova via local está localizada na face norte da pedra e foi batizada de "Aonde o vento faz a curva", com 18 cordadas que totalizam 880 metros de escalada. Para atingir o cume, deve-se escalar mais duas enfiadas da via " bodifera ilha" (70 metros).

Fonte: Webventure
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Nova via na Pedra Riscada - MG

Por Breno Araujo 'Racha Cuca'

Foi finalizada, repetida e livrada (após vários vôos ) a via "Onde o vento faz a curva" na Pedra Riscada. A via tem na 18 enfiadas, totalizando 880 metros e acessa o cume através de mais 2 enfiadas (70 metros) da via "Bodifera Ilha".




A "Onde o vento faz a curva" situasse na face norte da pedra e pode ser divida em 2 partes. A primeira parte com 500 metros (10 enfiadas), acessa um colo que pode ser atingido caminhando 3 horas pelo outro lado da montanha. Esta foi conquistada em estilo mais clássico com crux em 6b E2.
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A segunda parte da via, que possibilita o acesso ao cume em apenas um dia , foi livrada este fds. Esta apresenta um trecho 380 metros bem vertical, com uma escalada técnica, pés delicados, regletinhos... com grampeação esportiva clássica, que dá E2. As 8 enfiadas receberam a sugestão de graduação de 7a 50m, 7c 50, 8a 50 m, 7c 50 m, 6c 50m , 6c 50m, 5b 50m e 4° grau 30 metros. Atraves desta acessa-se um colo de mata onde encontra-se as 2 ultimas enfiadas da Bodifera Ilha (5° e 4° graus).
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Todas as paradas da via são duplas e na base da segunda parte onde há um bom lugar para dormir, onde estão 2 banquinhos para ajudar na logística da escalada, pois esta possui 4 paradas bem aéreas.


Acessos:

Para se chegar na base da primeira parte da via, ao se chegar próximo a pedra virar a direita ate chegar em um Curral com um riozinho bem largo. Parar o carro ao lado do curral e atravessar o rio para onde há uma graminha boa para acampar. A subida para a base é bem marcada e esta tem um plastico na base (tambor azul de plastico).

A caminhada para o colo, para se escalar apenas a segunda parte é bem simples. Após parar o carro na base da matinha (logo antes de um riozinho que nao rola de atravessar de carro) entrar no leito onde escorre a água da chuva mantendo-se a direita na trilha. Após 10 minutos há um poço onde pode-se recolher agua. Logo depois desta, se dirigir um pouco para a esquerda procurando o leito seco.... aí é só subir a trilha que acabará chegando no colo. 


Fonte: Blog do Baldin

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Pedra Riscada - maiores vias de escalada do Brasil


Fonte: Panoramio - Photo of Pedra Riscada

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PRIMEIRA REPETIÇÃO MINEIRA DA VIA PLACE OF HAPPINESS NA PEDRA RISCADA

Essa semana na Rokaz tem quatro escaladores tão alegres que eles estão rindo a toa o tempo inteiro, qualquer coisa que acontece agora não importa, eles acabaram de viver uma aventura fantástica e eles estão profundamente felizes...

Essa aventura foi a escalada de uma das vias de paredão mais incríveis do mundo, a via "Place of Happiness", na Pedra Riscada - São José do Divino - MG.

Depois de uma primeira tentativa em Junho, decidimos voltar a tentar essa via não porque nosso orgulho estava ferido, mas porque a via merece, muito provavelmente, o título de via de big wall mais linda do Brasil...

A empreitada foi muito árdua, a estratégia inicial não deu certo, a escalada aconteceu de um jeito totalmente diferente do que tínhamos imaginado, fizemos a maior gambiarra que já arrumei da minha vida num paredão, passamos muito aperto e foi por isso que estamos tão felizes agora. O escalador de paredão, ou o montanhista em geral, é um cara as vezes um pouco esquisito: quanto mais aperto ele passa, mais feliz ele fica depois!

O graal do escalador é seu limite, ele fica a vida inteira procurando, nos boulders, nas vias esportivas ou nos paredões e cada vez que ele consegue superar seu limite, ele atinge o nirvana.

E na Pedra riscada, superamos nossos limites...


Os quatro caras felizes da vida: Alexis, Pedrinho, Kbção e Carlito:
 
 
A Pedra Riscada vista de São José do Divino:
 
A estratégia inicial era sair na sexta a noite de BH, dormir duas ou 3 horas na base da Pedra Riscada, acordar cedo e escalar sábado as 9 ou 10 primeiras enfiadas, descer para dormir no platô que tem na altura da sexta parada e escalar as 8 ou 9 enfiadas do final da via no domingo.

Sabíamos que ia ser muito difícil chegar ao cume domingo a noite e descer até a base do paredão no mesmo dia. Por isso levamos água e comida para três dias.

Na base do paredão, a via de 850m e 18 enfiadas segue a aresta amarela entre sol e sombra:
 
Para carregar para cima os equipos levamos um grande barril: durante o primeiro dia o Pedrinho e Kbção ficaram por conta de puxar esse monstro de 50 kilos, quando o Alexis e Carlito estavam escalando rápido com pouco peso.


Ao inicio a estratégia deu muito certo, Pedrinho com sua grande experiência de trabalhos em altura conseguiu arrumar um jeito eficiente de puxar o barril com o Kbção, e eu e Carlito estávamos escalando rápido as primeira enfiadas fáceis. Carlito guiou as 4 primeiras enfiadas em 4to e 5to grau, guiei a quinta enfiada em sétimo grau, Carlito guiou a sexta e a sétima enfiada, uma linda fenda de sexto grau protegida com móveis e tudo se complicou quando chegamos a oitava cordada.

Carlito guiando a sétima enfiada:

A oitava cordada sobe uma fenda vertical, graduada em oitavo grau, muito fina e difícil de proteger com móveis. Os conquistadores bateram uma primeira chapeleta a 3 metros da parada, uma segunda a dez metros: entre as duas chapeletas tem que se proteger com micro camalots e nuts - dois tipos de móveis.

Essa enfiada é o primeiro crux da via. Foi nessa enfiada que o Mister Bean caiu em Junho e quebrou o pé: ele vacou no crux da enfiada que fica logo abaixo da segunda chapeleta, as três proteções que ele tinha colocado saíram uma depois da outra e ele caiu até um pequeno plato abaixo da parada, gritando de dor...

Quando dessa vez comecei a escalar essa enfiada lembrava muito bem do Bean caindo, pois fui eu quem estava dando segurança para ele em junho. Eu sabia que era provavelmente o único lance difícil da via e de onde não podia cair de jeito nenhum, as proteções são ruins e se elas estouram o escalador cai num plato 10 metros mais baixo. Mas no mesmo tempo estava bastante confiante pois em junho tinha mandado o lance sem muito problema.

A diferença é que quando mandei o lance em junho eram 8 da manhã, a temperatura estava muito agradável, e quando comecei a escalar sábado passado, era duas da tarde, no sol e estava muito quente.

Depois da primeira chapeleta tive o prazer de achar um micro-nut travado na fenda que os Cariocas tinham deixado um mês atrás quando eles fizeram a primeira repetição da via. Depois do micro-nut coloquei mais 3 micro-camalots, para tentar proteger bem o crux abaixo da chapaleta. Mas eu sabia que essas proteções eram bastante precárias por causa da forma muito estreita e rasa da fenda.

Entrei bem no crux, estava muito perto da chapeleta, escalando de oposição, com a metade da primeira falange dos dedos na fenda fina, quando de repente aconteceu o desastre... Minha mão direita, provavelmente por causa do calor, vazou... Comecei a cair para trás, estava a uns 9 metros acima do Carlito na parada, foi o inicio de uma longa vaca, o primeiro camalot saiu da fenda, comecei a dar um mortal!!

O segundo móvel estourou também sem freiar minha queda, eu vi o ceu girando muito rápido, o terceiro camalot arrebentou do mesmo jeito, o pesadelo continuava, pensava muito forte que não queria machucar, o micro-nut saiu da fenda também sem opor nenhuma resistência, estava caindo, sempre caindo, passei do lado do Carlito igual um foguete, e finalmente cheguei sentado num plato a uns 2 metros abaixo do Carlos, de frente para o vazio!! Um segundo passou, dois segundos, e fiquei em pé, foi um milagre, não machuquei!! Incrível, amorteci a queda de 10 metros com minha bunda!!


A oitava enfiada vista de cima:

 
Não machuquei mas fiquei bastante chocado... Esperei meia hora e voltei a escalar a mesma enfiada, um pouco abalado, mas com outra estratégia em mente: ia tentar escalar esse crux em artificial. Não queria correr o risco de vacar de novo...

Coloquei uma primeira proteção com um micro-camalot acima da primeira chapeleta, e dessa vez tive a ideia de descer até a chapeleta para testar o micro camalot: sentei na corda, mas segurando com as minhas mãos a costura da chapeleta. Sentei uma primeira vez, o micro camalot segurou meu peso, sentei uma segunda vez com mais vontade, o camalot segurou bem, sentei uma terceira vez fazendo mais força, e o camalot vazou... Nesse momento decidi desistir da empreitada, nenhum paredão vale a pena machucar e ficar parado vários meses...Cheguei a conclusão que para escalar essa enfiada com segurança precisava de um piton ou de uma outra chapeleta.


Eram 3 ou 4 horas da tarde, o cume nunca me pareceu tão longe que nessa hora. O Pedrinho e Kbção estavam chegando no platô que fica a direita da sexta parada onde a gente tinha planejado dormir. Foi nessa hora que o nosso anjo da guarda apareceu uma segunda vez: no platô, bem estreito, onde tinham duas pequenas árvores, aconteceu um segundo milagre: o Pedrinho e o Kbção acharam um galho bastante reto de uns 5 metros de comprimento!!

Na tarde do primeiro dia, no plato do bivaque, o Pedrinho e Kbção que puxaram 50 kilos para cima, desmaiam de cansaço...

  
O visual no final da tarde:


 O nascer do sol no segundo dia:

 
 Depois de uma primeira noite muito boa no platô, comecei de novo a escalar com o Carlito as 7 da manhã a oitava enfiada. Mas dessa vez, com um acessório bastante original, o galho de 5 metros, que eu ia usar de stick-clip !! A uns dois metros acima da primeira chapeleta, coloquei dois micro camalots, sentei neles delicadamente, puxei para cima o "galho-clip" com uma costura (e uma corda) colocada na ponta dele com esparadrapo, e depois de umas 10 tentativas, me esticando no máximo para cima, consegui costurar a segunda chapeleta!! UUHHUU!!! Soltei gritos de alegria!! De repente, a gente estava muito mais perto do cume!

O resto da enfiada é difícil, mas não existe mais risco de cair num platô, ela é bem vertical, subindo a mesma fenda, sempre muito fina.

Depois da oitava enfiada, guiei a nona enfiada. A primeira parte dessa enfiada é uma fenda mais larga, de sétimo grau, a segunda parta é negativa, de nono grau, escalei uma boa parte em artificial.

Escalando a nona enfiada:



Depois de escalar essas duas enfiadas já eram 11 da manhã, estava muito quente, era tarde demais para tentar chegar ao cume nesse segundo dia. O Kbção e Pedrinho falaram para decermos até o plato para descansar e esperar o calor baixar para continuar a escalada.

O Carlito na nona parada:


Por volta das 3 da tarde nesse segundo dia o Kbção e Pedrinho subiram jumareando até a nona parada, o ponto mais alto que tínhamos alcançado. Kbção guiou a décima cordada de oitavo grau, e começou a décima primeira enfiada quando a luz do sol começou a ficar laranja. Essa décima primeira cordada é o segundo crux e a enfiada mais linda da via: 60 metros de nono grau, com vários esticões de 8 a 10 metros!! Foi nessa enfiada que vaquei em junho de mais de 20 metros...

Kbção na décima primeira enfiada:

  
Nosso "destino" dependia agora do sucesso do Kbção nessa enfiada. Pedrinho estava na seg, eu e carlito estávamos deitados no platô, super atentos a qualquer movimento do Kbção, torcendo muito para ele conseguir chegar ao cume dessa enfiada. Foi uma luta que durou mais de uma hora e meia...


Cada vez que o Kbção chegava a uma chapeleta, ele gritava de alegria, como se cada chapeleta era uma conquista importante. Uma vez, segurando uma pinça muito ruim a 8 ou 9 metros acima da última chapeleta, ele quase vacou. Começou a expirar, estava no limite, e num movimento muito desesperado, ele superou a gravidade e alcançou a penúltima chapeleta da enfiada... Quinze minutos depois, quando ele alcançou a décima primeira parada, o pôr do sol atrás, foi festa na Pedra Riscada! Parabéns Kbção!!!


Na segunda noite no platô começamos a racionar a água. Separamos 8 litros para o terceiro dia, dois litros para o café da manhã, e 6 litros para o resto do dia, para 4 pessoas, era muito pouco...
Acordamos as 4 da manhã, jumareamos de noite as enfiadas que tínhamos subido o dia anterior, e o Kbção começou a guiar as 7 enfiadas que nos separavam do cume. O Pedrinho seguia depois do Kbção, jumareando ou escalando, e depois eu e Carlito formando outra dupla escalamos atrás deles.

Carlito jumareando:


  
Essas 7 enfiadas são todas lindas, numa aresta vertical que vira positiva no final, quase sempre muito exposta. Escalar a 700 ou 800 metros do chão é sempre um grande prazer para quem não tem medo de altura... Da a impressão de voar, de ter conseguido se livrar da gravidade... Dois maravilhosos e gigantes urubus rei nos acompanharam durante um bom tempo.


A meio dia alcançamos o cume!! É sempre um grande momento de alegria, o escalador fica muito feliz de ter vencido a parte mais difícil da empreitada, mas não pode relaxar porque ele ainda tem que enfrentar a parte mais perigosa da escalada que é a descida a descida.



Conseguimos ser bem eficientes na descida, Kbção e Pedrinho iam na frente, Pedrinho trocava uma chapeleta a cada parada para colocar uma argola e facilitar a descida de rappel.


Nesse terceiro dia, o vento nunca parou e incomodou bastante na descida de rappel...


As 3 da tarde chegamos no platô do bivaque, depois de arrumar nossas coisas continuamos a descida e chegamos ao carro quando começou a escurecer, esfomeados e totalmente desidratados...

Timing perfeito!! Chegou finalmente a hora de relaxar...



ESCALAMOS A PAREDE DOS SONHOS!!

Com certeza a PLACE OF HAPPINESS  vai se tornar uma via clássica , ela se equipara aos big walls do Yosemite!!

Valeu Carlito, Kbção e Pedrinho, a parceria foi excelente!!

Essa semana, estamos muito felizes, realizamos um sonho, e mais importante ainda, temos muitos outros para realizar... 

Fonte: Rokaz Blog   
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